Ao mesmo tempo em que se amplia o debate na sociedade sobre a questão da responsabilidade social e ética, cresce também na comunidade de negócios o questionamento sobre a real conexão entre as práticas de responsabilidade social e o desempenho econômico e financeiro das empresas. Este tipo de correlação vem sendo analisado em vários estudos acadêmicos recentes e em diferentes abordagens realizadas através de ações estratégicas nas empresas ligadas ao agronegócio nacional, embora, em muitos casos, com resultados por vezes contraditórios e inconclusos.
No ambiente empresarial, a percepção de que o exercício da responsabilidade social pode trazer retornos à empresa é crescente, embora com pouca comprovação empírica. A relação entre ações de responsabilidade social e desempenho financeiro é própria de cada negócio. O envolvimento comunitário (filantropia), as ações ambientais, entre outras, não têm ligações diretas facilmente mensuráveis com a operação dos negócios. Dependendo do contexto, existirão correlações positivas e negativas entre o investimento em ações de responsabilidade sócio-ambiental e os ganhos financeiros.
Nesse ambiente, verifica-se a crescente demanda por ações de responsabilidade sócio-ambiental realizadas por revendas agrícolas que, por vezes, essa demanda exacerba o contexto de ações semelhantes desenvolvidas pela indústria fornecedora junto a seus canais.
Tal direcionamento e preocupação de revendas agrícolas com o ambiente social e ambiental que as cercam demonstra a crescente profissionalização do setor, deixando de exercer funções dentro do contexto da sustentabilidade do negócio apenas como coadjuvantes das ações das multinacionais, para iniciarem um processo de construção de um ambiente de negócios condizente com a crescente complexidade da gestão do agronegócio brasileiro.
Este movimento, iniciado pelas multinacionais possibilita a geração de ganhos tanto intangíveis quanto tangíveis para empresas, sendo parte desses ganhos os próprios incentivos alocados à empresas que se movimentam nesse sentido, o que pode ser analisado de maneira bastante motivadora para empresas que já se preocupam com estas questões há tempos, e também como uma forma de pressão de mercado e social sobre aquelas empresas que não internalizam a preocupação com a responsabilidade social em seu ambiente de negócios.
Parte do valor
A reputação da empresa para o comportamento ético, incluindo sua integridade percebida em lidar com clientes, fornecedores e outras partes, é parte do valor da sua marca. Isto é refletido em sua avaliação, assim como o capital humano individual é baseado em parte em sua reputação para o comportamento ético. Neste sentido, mercados privados propiciam potencialmente importantes incentivos para o comportamento ético, ao imporem custos em organizações e indivíduos que rompem padrões estabelecidos.
As empresas que desenvolvem um comportamento socialmente questionável, intencionalmente ou não, correm os riscos de atrair a atenção da mídia, que, por sua vez, pode causar danos importantes à sua imagem, comprometendo a sua própria sustentabilidade, como em alguns eventos ligados à espoliação ambiental, exposição a riscos da comunidade circunvizinha, práticas lesivas aos funcionários, entre alguns exemplos. Por outro lado, as práticas sociais positivas podem obter o efeito contrário, chamando a atenção da opinião pública, dos clientes, consumidores e governo de maneira positiva.
Tais preocupações, tanto por pressões sociais, como pela importância das revendas no contexto de redes de relacionamento e transação das multinacionais, vem ganhando importância no âmbito do ambiente de negócios dos canais, gerando uma oportunidade ímpar a todo o setor agrícola de geração de práticas sociais e ambientais mais evoluídas e profissionalizadas, gerando ganhos sistêmicos a todo o agronegócio nacional.
Os preceitos da responsabilidade sócio-ambiental precisam e devem sustentar inclusive as relações entre as empresas fornecedoras e suas revendas no sentido de criar incentivos à aplicação conjunta dessas práticas no intuito de trazer benefícios mais abrangentes, por exemplo, para a cadeia como um todo; até para a geração de benefícios mais específicos e alocados, como, por exemplo, ações de cunho social ou ambiental direcionados a uma comunidade ou mesmo a entidades específicas.
Para adicionar complexidade ao processo, o gerenciamento da conduta socialmente responsável não se limita mais apenas às ações da empresa, mas envolve todo o sistema ou cadeia produtiva na qual a organização se insere. As empresas passam a ser afetadas e cobradas, direta ou indiretamente pela conduta de seus fornecedores e outros parceiros comerciais.
Boa imagem
As empresas estão respondendo à insistência dos consumidores em lidar preferencialmente com empresas que ostentam uma boa imagem. E a conduta socialmente responsável consistente é um dos meios de criar tal imagem. Esta é a lógica positiva que direciona a conduta das empresas.
Mas este processo não deve ser visto apenas como uma resposta pragmática das empresas em relação ao seu ambiente. Na verdade, reflete também a própria evolução institucional das sociedades. Por que a separação das empresas e da sociedade? Na verdade, as empresas, como outros tipos de organização, são integrantes da chamada sociedade civil. São formadas por pessoas, e, portanto, a conduta das pessoas na atividade de negócios não é descasada da sua prática no dia a dia como cidadãos.
A evolução institucional ocorre também no sentido de que as pessoas na sociedade estão mais conscientes dos seus direitos e deveres, menos tolerantes a práticas abusivas e antiéticas. Isto evidentemente se reflete na condução das empresas, não apenas como resposta pragmática ao ambiente, mas porque os indivíduos que conduzem as empresas, nos seus diversos níveis de decisão e ação, são parte integrante da sociedade e, neste sentido, também refletem as mudanças nos valores.
O tema responsabilidade social deve permear as decisões estratégicas no ambiente organizacional das revendas agrícolas, servindo sempre como referencial para a tomada de decisão de empresas que buscam um desenvolvimento sustentável e estão alinhadas com os preceitos demandados pela sociedade de forma geral e que levam em consideração a importância representativa de sua inserção no mercado.